Sob o signo
da mediocridade
1.
No Aurélio,
“medíocre é o que está entre o grande e o pequeno, o bom e o mau, sem
destaque, comum, ordinário, mediano.”O significado dessa palavra da língua
portuguesa cai como uma luva para os primeiros 18 meses do governo Sérgio
Cabral.
2.
Mas podia ser
pior. É só fazer o seguinte exercício : retirar todas as verbas federais
investidas no estado, nas mais diferentes áreas, do esporte à
infra-estrutura, da habitação popular aos equipamentos de segurança pública,
da saúde aos programas de transferência de renda. O resultado certamente
seria macabro para a população fluminense : o governo do estado estaria se
limitando a pagar a folha de salário dos servidores. E olhe lá. O quadro
seria praticamente o mesmo dos malfadados anos do casal Garotinho.
3.
Outra reflexão
interessante é nos remetermos aos compromissos prioritários de Sérgio
Cabral, enfatizados à exaustão durante toda a sua campanha : saúde,
segurança e educação. De cara, uma constatação preliminar : o governo não
fez sequer o mais tímido movimento no sentido de implementar uma política de
valorização salarial dos servidores , o que era nos tempos de candidato
considerado pré-requisito para o salto de qualidade prometido nesses setores
essenciais.
4.
Ao contrário, o
governo cristalizou o arrocho e não foi capaz de atrair as categorias do
serviço público para um processo de diálogo permanente. Nada diferente,
aliás, da frieza e do distanciamento que vem dando o tom das relações desse
governo com o conjunto dos movimentos sociais.
5.
A presença de
um secretário qualificado e bem-intencionado como Sérgio Côrtes, na pasta da
Saúde, não tem sido suficiente para dar cabo das enormes carências do
setor.Com as exceções de praxe , que só confirmam a regra, permanece caótico
o atendimento dos hospitais do estado, agravado pela insatisfação crescente
dos profissionais de saúde, conforme ficou evidente durante a epidemia de
dengue.
6.
Contam-se nos
dedos os postos de saúde 24 horas inaugurados, uma espécie de carro-chefe da
política de saúde do governador que até agora não decolou. Por iniciativa do
Executivo estadual, o Rio foi o primeiro estado a aprovar as fundações de
direito privado, dando as costas para as entidades e ativistas da área e
para a própria Conferência Nacional de Saúde, que rejeitou categoricamente a
proposta, denunciando notadamente a precarização dos direitos dos servidores
e o caráter privatista das fundações.
7.
Se não fosse a
bóia de salvação do governo Lula, através de inúmeras ações e programas do
Ministério da Saúde no estado, o panorama da saúde pública em nosso estado
seria ainda mais dramático.
8.
Já os números
da segurança pública são eloqüentes em relação aos resultados da política do
“caveirão” posta em prática. Não se trata de embarcar na falsa discussão
sobre se as forças de segurança pública devem ou não partir para o confronto
contra as quadrilhas de traficantes. O que está em xeque é o resultado da
sucessão de operações desastradas : nunca tantos inocentes perderam a vida
como na era do caveirão, vítimas de operações atabalhoadas e mal
planejadas.
9.
Também é
alarmante a quantidade de pessoas feridas ou mortas supostamente em
confronto com as forças policiais. Mas a face mais reveladora da concepção
de combate ao crime posta em prática é o grande número de mortos pela
polícia com claros sinais de execução.
10.
Ou seja, onde
está a propalada eficácia de uma política de segurança que cada vez prende
menos e mata mais ? Até agora as ações do estado apresentam um resultado
pífio tanto em relação à apreensão de drogas e armas como ao desbaratamento
das quadrilhas. Não é à toa, e sim por uma questão de opção por uma
determinada política de segurança, que as autoridades não falam mais em
policiamento comunitário, em ações de prevenção e inteligência, em
planejamento, etc, abandonado a perspectiva social, que a base de qualquer
estratégia de prevenção ao crime que se pretenda séria e estruturante. A
ocupação social das comunidades através da massificação de políticas
inclusivas de educação, saúde, lazer e cultura, decididamente, não figura
entre as prioridades do governo do estado.
11.
Na educação, a
substituição do professor Maculan por Tereza Porto, ex-presidente do Proderj
e apadrinhada do presidente da Alerj, Jorge Picciani, revela que o governo
do estado se rendeu à partidarização e aos arranjos político-eleitorais,
mesmo em áreas sensíveis e estratégicas como a educação. Enquanto isso, a
carência dos professores segue fazendo estragos na qualidade do ensino, e os
concursados são chamados com extrema lentidão. Problemas já crônicos como a
terceirização e a precariedade das instalações seguem sendo negligenciados.
Por outro lado, nem é preciso ser iniciado no assunto para perceber a falta
que faz um projeto pedagógico no estado. Não um projeto imposto de cima para
baixo, mas que conte na sua elaboração com a opinião dos profissionais de
educação, dos alunos, pais de alunos e especialistas em educação. A
sociedade precisa conhecer amiúde os convênios celebrados pela Secretaria de
Educação com as ONGs. Sobre alguns, inclusive, pairam nuvens de suspeição em
relação ao retorno pedagógico e a forma pouco transparente como são
firmados.
12.
Por fim, mesmo
sendo escassas, merecem citação algumas ações meritórias do governo, como o
fim da farra dos gastos publicitários e o apoio estrutural decidido às obras
do PAC. Mas a avaliação global do governo é mais um exemplo de como a
ausência do estado acaba beneficiando uma classe social, a elite, em
detrimento da outra, a classe trabalhadora.
O Rio abandonado por
um prefeito virtual
1.
Procura-se um
equipamento urbano municipal funcionado a contento, ruas sem buracos e
iluminação, um hospital público não caótico, algum ordenamento urbano, uma
sombra que seja de política popular de habitação e transportes. Falar do
governo César Maia, do ponto de vista dos menos favorecidos e da classe
trabalhadora, é falar do nada, do vazio. Mas a omissão e a
irresponsabilidade não são as únicas marcas registradas do prefeito da
internet e dos blogs.
2.
Quando se trata
de não destinar os recursos constitucionais à saúde, o alcaide é muito
ativo. Pesquisadores da área afirmam que o Rio não teria vivido a pior
epidemia de dengue de sua história, caso a prefeitura cumprisse minimamente
sua parte definida pelo Sistema Único de Saúde : a prevenção. O caso é
típico de improbidade administrativa, já que o município recebeu todos os
repasses da União para essa finalidade e não fez a sua parte.
Outra
frente em que o prefeito tem sido muito atuante é no esvaziamento dos
conselhos em que os trabalhadores e a sociedade têm assento, com a clara
intenção de impedir o seu funcionamento. Ao apagar das luzes de sua
administração, César Maia sinaliza que pretende fechá-la em grande estilo :
quer premiar as empresas de ônibus com a renovação da concessão das linhas
por dez anos. A sorte é que estamos em ano eleitoral e o pesadelo está
próximo do fim.
Para o
Sintergia, 1932 foi um ano que não terminou. Pelo contrário, foi o início de
uma história que já dura 76 anos. Em 6 de abril daquele ano, um grupo de
trabalhadores tomou a iniciativa de criar o Syndicato dos Empregados da The
Rio de Janeiro Trailways Light & Power, atual Sintergia. Neste mesmo ano
Lamartine Babo gravava “Linda Morena”, enquanto Gustavo Barroso assumia a
presidência da Academia Brasileira de Letras. E tem mais: Getúlio Vargas
publica o novo código eleitoral, que previa o voto secreto e o direito de
voto para mulheres e foi criado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que foi
instalado em 20 de maio. A nota triste daquele ano foi a morte de Alberto
Santos Dumont. Embora os livros de História dêem mais destaque para a
eclosão da Revolução de 1932, quando uma greve mobiliza 200 mil
trabalhadores em São Paulo. Preocupados, empresários e latifundiários se
unem contra Vargas. Ao longo do tempo, o Sintergia honrou sua tradição e
participou ativamente de episódios marcantes da história brasileira, como a
luta pelas diretas, a movimentação contra a instalação da ALCA e,
atualmente, participa da Conferência Nacional das Cidades. Mas o principal
papel do Sintergia continua sendo o de defensor dos direitos de
trabalhadores de 20 empresas do setor de energia e a manutenção do espírito
que faz da esperança o combustível para lutar por um mundo em que a relação
capital-trabalho seja norteada pelo sentimento da justiça social.