SINTERGIA-RJ

Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia do Rio de Janeiro e Região.

 

 

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Conjuntura Estadual

publicado em 22/07/2008
Escrito por Imprensa CUT

 

Sob o signo da mediocridade

1.      No Aurélio, “medíocre é o que está entre o grande e o pequeno, o bom e o mau, sem destaque, comum, ordinário, mediano.”O significado dessa palavra da língua portuguesa cai como uma luva para os primeiros 18 meses do governo Sérgio Cabral.

2.      Mas podia ser pior. É só fazer o seguinte exercício : retirar todas as verbas federais investidas no estado, nas mais diferentes áreas, do esporte à infra-estrutura, da habitação popular aos equipamentos de segurança pública, da saúde aos programas de transferência de renda. O resultado certamente seria macabro para a população fluminense : o governo do estado estaria se limitando a pagar a folha de salário dos servidores. E olhe lá. O quadro seria praticamente o mesmo dos malfadados anos do casal Garotinho.

3.      Outra reflexão interessante é nos remetermos aos compromissos prioritários de Sérgio Cabral, enfatizados à exaustão durante toda a sua campanha : saúde, segurança e educação. De cara, uma constatação preliminar :  o governo não fez sequer o mais tímido movimento no sentido de implementar uma política de valorização salarial dos servidores , o que era nos tempos de candidato considerado pré-requisito para o salto de qualidade prometido nesses setores essenciais.

4.      Ao contrário, o governo cristalizou o arrocho e não foi capaz de atrair as categorias do serviço público para um processo de diálogo permanente. Nada diferente, aliás, da frieza e do distanciamento que vem dando o tom das relações desse governo com o conjunto dos movimentos sociais.

5.      A presença de um secretário qualificado e bem-intencionado como Sérgio Côrtes, na pasta da Saúde, não tem sido suficiente para dar cabo das enormes carências do setor.Com as exceções de praxe , que só confirmam a regra, permanece caótico o atendimento dos hospitais do estado, agravado pela insatisfação crescente dos profissionais de saúde, conforme ficou evidente durante a epidemia de dengue.

6.      Contam-se nos dedos os postos de saúde 24 horas inaugurados, uma espécie de carro-chefe da política de saúde do governador que até agora não decolou. Por iniciativa do Executivo estadual, o Rio foi o primeiro estado a aprovar as fundações de direito privado, dando as costas para as entidades e ativistas da área e para a própria Conferência Nacional de Saúde, que rejeitou categoricamente a proposta, denunciando notadamente a precarização dos direitos dos servidores e o caráter privatista das fundações.

7.      Se não fosse a bóia de salvação do governo Lula, através de inúmeras ações e programas do Ministério da Saúde no estado, o panorama da saúde pública em nosso estado seria ainda mais dramático.

8.      Já os números da segurança pública são eloqüentes em relação aos resultados da política do “caveirão” posta em prática. Não se trata de embarcar na falsa discussão sobre se as forças de segurança pública devem ou não partir para o confronto contra as quadrilhas de traficantes. O que está em xeque é o resultado da sucessão de operações desastradas : nunca tantos inocentes perderam a vida como na era do caveirão, vítimas de operações  atabalhoadas e mal planejadas.

9.      Também é alarmante a quantidade de pessoas feridas ou mortas supostamente em confronto com as forças policiais. Mas a face mais reveladora da concepção de combate ao crime posta em prática é o grande número de mortos pela polícia com claros sinais de execução.

10.  Ou seja, onde está a propalada eficácia de uma política de segurança que cada vez prende menos e mata mais ? Até agora as ações do estado apresentam um resultado pífio tanto em relação à apreensão de drogas e armas como ao desbaratamento das quadrilhas. Não é à toa, e sim por uma questão de opção por uma determinada política de segurança, que as autoridades não falam mais em policiamento comunitário, em ações de prevenção e inteligência, em planejamento, etc, abandonado a perspectiva social, que a base de qualquer estratégia de prevenção ao crime que se pretenda séria e estruturante. A ocupação social das comunidades através da massificação de políticas inclusivas de educação, saúde, lazer e cultura, decididamente, não figura entre as prioridades do governo do estado.

11.  Na educação, a substituição do professor Maculan por Tereza Porto, ex-presidente do Proderj e apadrinhada do presidente da Alerj, Jorge Picciani, revela que o governo do estado se rendeu à partidarização e aos arranjos político-eleitorais, mesmo em áreas sensíveis e estratégicas como a educação. Enquanto isso, a carência dos professores segue fazendo estragos na qualidade do ensino, e os concursados são chamados com extrema lentidão. Problemas já crônicos como a terceirização e a precariedade das instalações seguem sendo negligenciados. Por outro lado, nem é preciso ser iniciado no assunto para perceber a falta que faz um projeto pedagógico no estado. Não um projeto imposto de cima para baixo, mas que conte na sua elaboração com a opinião dos profissionais de educação, dos alunos, pais de alunos e especialistas em educação. A sociedade precisa conhecer amiúde os convênios celebrados pela Secretaria de Educação com as ONGs. Sobre alguns, inclusive, pairam nuvens de suspeição em relação ao retorno pedagógico e a forma pouco transparente como são firmados.

12.  Por fim, mesmo sendo escassas, merecem citação algumas ações meritórias do governo, como o fim da farra dos gastos publicitários e o apoio estrutural decidido às obras do PAC. Mas a avaliação global do governo é mais um exemplo de como a ausência do estado acaba beneficiando uma classe social, a elite, em detrimento da outra, a classe trabalhadora.

O Rio abandonado por um prefeito virtual

1.      Procura-se um equipamento urbano municipal funcionado a contento, ruas sem buracos e iluminação, um hospital público não caótico, algum ordenamento urbano, uma sombra que seja de política popular de habitação e transportes. Falar do governo César Maia, do ponto de vista dos menos favorecidos e da classe trabalhadora, é falar do nada, do vazio. Mas a omissão e a irresponsabilidade não são as únicas marcas registradas do prefeito da internet e dos blogs.

2.      Quando se trata de não destinar os recursos constitucionais à saúde, o alcaide é muito ativo. Pesquisadores da área afirmam que o Rio não teria vivido a pior epidemia de dengue de sua história, caso a prefeitura cumprisse minimamente sua parte definida pelo Sistema Único de Saúde : a prevenção. O caso é típico de improbidade administrativa, já que o município recebeu todos os repasses da União para essa finalidade e não fez a sua parte.

Outra frente em que o prefeito tem sido muito atuante é no esvaziamento dos conselhos em que os trabalhadores e a sociedade têm assento, com a clara intenção de impedir o seu funcionamento. Ao apagar das luzes  de sua administração, César Maia sinaliza que pretende fechá-la em grande estilo : quer premiar as empresas de ônibus com a renovação da concessão das linhas por dez anos. A sorte é que estamos em ano eleitoral e o pesadelo está próximo do fim.

Para o Sintergia, 1932 foi um ano que não terminou. Pelo contrário, foi o início de uma história que já dura 76 anos. Em 6 de abril daquele ano, um grupo de trabalhadores tomou a iniciativa de criar o Syndicato dos Empregados da The Rio de Janeiro Trailways Light & Power, atual Sintergia. Neste mesmo ano Lamartine Babo gravava “Linda Morena”, enquanto Gustavo Barroso assumia a presidência da Academia Brasileira de Letras. E tem mais: Getúlio Vargas publica o novo código eleitoral, que previa o voto secreto e o direito de voto para mulheres e foi criado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que foi instalado em 20 de maio. A nota triste daquele ano foi a morte de Alberto Santos Dumont. Embora os livros de História dêem mais destaque para a eclosão da Revolução de 1932, quando uma greve mobiliza 200 mil trabalhadores em São Paulo. Preocupados, empresários e latifundiários se unem contra Vargas. Ao longo do tempo, o Sintergia honrou sua tradição e participou ativamente de episódios marcantes da história brasileira, como a luta pelas diretas, a movimentação contra a instalação da ALCA e, atualmente, participa da Conferência Nacional das Cidades. Mas o principal papel do Sintergia continua sendo o de defensor dos direitos de trabalhadores de 20 empresas do setor de energia e a manutenção do espírito que faz da esperança o combustível para lutar por um mundo em que a relação capital-trabalho seja norteada pelo sentimento da justiça social.