O retrocesso imposto à classe trabalhadora em boa parte do mundo neste momento,
em especial na Europa, faz lembrar os primórdios do Modo de Produção
Capitalista, quando o grau de exploração do trabalho era bem maior do que hoje.
Salários baixos associadas a longas e extenuantes jornadas eram a regra nas
fábricas. A saúde física e mental dos trabalhadores estava comprometida por
jornadas que se estendiam até 17 horas diárias, prática comum nas indústrias da
Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX.
Férias, descanso semanal e aposentadoria não existiam. Para se protegerem em
momentos difíceis, os trabalhadores inventavam vários tipos de organização –
como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.
Com as primeiras organizações, surgiram também as campanhas e mobilizações
reivindicando maiores salários e redução da jornada de trabalho. Greves, nem
sempre pacíficas, explodiam por todo o mundo industrializado. Chicago, um dos
principais polos industriais norte-americanos, também era um dos grandes centros
sindicais. Duas importantes organizações lideravam os trabalhadores e dirigiam
as manifestações em todo o país: a AFL (Federação Americana de Trabalho) e a
Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho). As organizações, sindicatos e
associações que surgiam eram formadas principalmente por trabalhadores de
tendências políticas socialistas, anarquistas e social-democratas. Em 1886,
Chicago foi palco de uma intensa greve operária. À época, Chicago não era apenas
o centro da máfia e do crime organizado era também o centro do anarquismo na
América do Norte, com importantes jornais operários como o Arbeiter Zeitung e o
Verboten, dirigidos respectivamente por August Spies e Michel Schwab.
Imprensa burguesa
Atualmente, é notória a cobertura parcial dos fatos e a hostilidade dos grandes
meios de comunicação ou da chamada mídia hegemônica aos movimentos sociais e, em
particular, aos sindicatos. Mas tudo isto não chega a ser novidade. Os jornais
patronais daquela época chamavam os líderes operários de cafajestes, preguiçosos
e canalhas que buscavam criar desordens. Uma passeata pacífica, composta de
trabalhadores, desempregados e familiares silenciou momentaneamente tais
críticas, embora com resultados trágicos no pequeno prazo. No alto dos edifícios
e nas esquinas estava posicionada a repressão policial. A manifestação terminou
com um ardente comício.
No dia 3, a greve continuava em muitos estabelecimentos. Diante da fábrica
McCormick Harvester, a policia disparou contra um grupo de operários, matando
seis, deixando 50 feridos e centenas presos, Spies convocou os trabalhadores
para uma concentração na tarde do dia 4. O ambiente era de revolta apesar dos
líderes pedirem calma.
Brutal repressão
Os oradores se revesavam; Spies, Parsons e Sam Fieldem, pediram a união e a
continuidade do movimento. No final da manifestação um grupo de 180 policiais
atacou os manifestantes, espancando-os e pisoteando-os. Uma bomba estourou no
meio dos guardas, uns 60 foram feridos e vários morreram. Reforços chegaram e
começaram a atirar em todas as direções. Centenas de pessoas de todas as idades
morreram.
Justiça de classe
A repressão foi aumentando num crescendo sem fim: decretou-se “Estado de Sítio”
e proibição de sair às ruas. Milhares de trabalhadores foram presos, muitas
sedes de sindicatos incendiadas, criminosos e gângsters pagos pelos patrões
invadiram casas de trabalhadores, espancando-os e destruindo seus pertences.
A justiça revelou seu caráter de classe, burguesa e antioperária, quando levou a
julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb,
Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. O simulacro de
julgamento começou dia 21 de junho e desenrolou-se rapidamente. Provas e
testemunhas foram inventadas. A sentença foi lida dia 9 de outubro, no qual
Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies foram condenados à morte na forca; Fieldem
e Schwab, à prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão.
A defesa de Spies
August Spies fez a própria defesa no julgamento. Não se curvou aos carrascos da
burguesia e reiterou suas convicções no futuro luminoso do movimento operário.
Leia abaixo um pequeno trecho do seu último discurso:
"Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário -
este movimento de milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na
miséria, esperam a redenção – se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão
apagado uma faísca, mas lá e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as
partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não poderão
apagá-lo!"
Parsons também falou:
"Arrebenta a tua necessidade e o teu medo de ser escravo, o pão é a liberdade, a
liberdade é o pão". Ele fez um relato da ação dos trabalhadores, desmascarando a
farsa dos patrões com minúcias e proclamou seus ideais:
"A propriedade das máquinas como privilégio de uns poucos é o que combatemos, o
monopólio das mesmas, eis aquilo contra o que lutamos. Nós desejamos que todas
as forças da natureza, que todas as forças sociais, que essa força gigantesca,
produto do trabalho e da inteligência das gerações passadas, sejam postas à
disposição do homem, submetidas ao homem para sempre. Este e não outro é o
objetivo do socialismo".
Execução
No dia 11 de novembro, Spies, Engel, Fischer e Parsons foram levados para o
pátio da prisão e executados. Lingg não estava entre eles, pois suicidou. Seis
anos depois, o governo de Illinois, pressionado pelas ondas de protesto contra a
iniqüidade do processo, anulou a sentença e libertou os três sobreviventes.
Em 1888 quando a AFL realizou o seu congresso, surgiu a proposta para realizar
nova greve geral em 1º de maio de 1890, a fim de se estender a jornada de 8
horas às zonas que ainda não haviam conquistado.
Internacional Socialista
No centenário do início da Revolução Francesa, em 14 de julho de 1889, reuniu-se
em Paris um congresso operário marxista. Os delegados representavam três milhões
de trabalhadores. Esse congresso marca a fundação da Segunda Internacional.
Na hora da votar as resoluções, o belga Raymond Lavigne encaminhou uma proposta
de organizar uma grande manifestação internacional, ao mesmo tempo, com data
fixa, em todas os países e cidades pela redução da jornada de trabalho para 8
horas e aplicação de outras resoluções do Congresso Internacional. Como nos
Estados Unidos já havia sido marcada para o dia 1º de maio de 1890 uma
manifestação similar, manteve-se o dia para todos os países.
No segundo Congresso da Segunda Internacional em Bruxelas, de 16 a 23 de
setembro de 1891, foi feito um balanço do movimento de 1890 e no final desse
encontro foi aprovada a resolução histórica: tornar o 1º de maio como "um dia de
festa dos trabalhadores de todos os países, durante o qual os trabalhadores
devem manifestar os objetivos comuns de suas reivindicações, bem como sua
solidariedade".
O ideal da igualdade
Como vemos, a greve de 1º de maio de 1886 em Chicago, nos Estados Unidos, não
foi um fato histórico isolado na luta dos trabalhadores, ela representou o
desenrolar de um longo processo de luta em várias partes do mundo que, já no
século 19, acumulavam várias experiências no campo do enfrentamento entre o
capital (trabalho morto apropriado por poucos) versus trabalho (seres humanos
vivos, que amam, desejam, constroem e sonham!).
O incipiente movimento operário que nascera com a revolução industrial, começava
a atentar para a importância da internacionalização da luta dos trabalhadores. O
próprio massacre ao movimento grevista de Chicago não foi o primeiro, mas passou
a simbolizar a luta pela igualdade, pelo fim da exploração e das injustiças.
Muitos foram os que tombaram na luta por mundo melhor, do massacre de Chicago
aos dias de hoje, um longo caminho de lutas históricas foi percorrido. Os tempos
atuais são difíceis para os trabalhadores, a nova revolução tecnológica criou
uma instabilidade maior, jornadas mais longas com salários mais baixos, cresceu
o número de seres humanos capazes de trabalhar, porém para a nova ordem eles são
descartáveis.